Litoral alentejano. Frio. Muito frio. Miúdas agasalhadas até aos cabelos. Gorros, cachecóis, luvas, lareira. Passeios...(poucos, devido aos 8º e 9º g que se fizeram sentir). Castanhas quentinhas, mãos dadas, pai com uma pelas costas, mãe com outra no carrinho, colo (muito colo...) e muito mimo também! Foi bom. Muito bom.
Hoje, não resisto a contar um episódio caricato que se passou esta manhã. Eu e a C. acordámos bem cedo as duas, deixámos o pai e a mana em casa e fomos à pastelaria comprar pão para o pequeno-almoço. Eram umas 8h15, mais coisa menos coisa, e o cheiro a pão quentinho já se sentia da rua. Comprámos 5 bolinhas acabadinhas de saír do forno (que estavam uma delícia!). À saída do café fui abordada por um rapaz, nos seus 20 e poucos anos, com péssimo aspecto (certamente mais um que se perdeu pela vida) e que me pediu se tinha uma moeda para lhe dar. O problema é que ainda não tinha ido ao multibanco e os poucos trocos que tinha na carteira gastei na bica e nos pãezinhos. Porém, não estava literalmente de mãos a abanar, e como não gosto de fazer desfeitas, peguei num lenço de papel, embrulhei um pão quentinho e dei ao rapaz. Sempre era melhor que nada, pensei. A reacção foi no mínimo inesperada. Respondeu-me com um "Eu não quero pão! Guarde lá o pão minha sra!". E eu estupefacta com aquela reacção brusca fiquei sem palavras, enquanto ele seguiu caminho a barafustar em alto e bom som "Eu não quero pão! Estou farto de pão! Só me dão pão, pão!". Eu, cada vez mais estupefacta, pensava que se calhar a táctica não era das melhores, que se fosse mendigar para a porta de um banco em vez de um café, talvez aí, a massa fosse outra. Eu e a C. ficámos paradas a olhar, enquanto as pessoas dentro da pastelaria olhavam para ver o que se tinha passado. O rapaz lá seguia feliz da vida, a barafustar com tudo e com todos. E eu, engoli em seco toda aquela situação, no mínimo desagradável. Fiquei "magoada" com tamanha ingratidão, afinal o meu gesto até tinha sido "louvável"!?!? No caminho para casa não conseguia tirar este episódio da cabeça e fui aliviando a consciência em voz alta, que era preciso ser-se muito ingrato, que além de injusto tinha sido bastante desagradável e mal-educado, que devia era arranjar trabalho...e a C. sempre muito caladinha desde o início, a ouvir tudo, enquanto eu prosseguia com as minhas palavras de indignação e revolta. Chegámos a casa, pousei o pão sobre a mesa e rematei com um "é preciso ser pobre e mal agradecido!". A minha filha, que relembro tinha estado aquele tempo todo inacreditavelmente tão caladinha, vira-se para mim e num tom nitidamente de pena diz-me: Ó mãe, mas tu também nem puseste manteiga... :)